‘Master grower’ vira profissão do futuro na Colômbia
Uma nova profissão de sucesso surge na Colômbia. É o master grower, título conferido a um gerente de produção agrícola com especialidade rara, o cultivo da cannabis. Eles ainda são poucos e disputados. Não passam de dez no país. Todos são estrangeiros.
Em 2016, a Colômbia aprovou o cultivo de cannabis medicinal para o mercado doméstico como para exportação. Um caminho surpreendente levando em conta o seu passado. O país ganhou notoriedade pela violenta guerra ao narcotráfico, introduzido por Pablo Escobar, nos arredores de Medelín, na década de 1970.
A liberação virou estratégia de desarticulação do mercado paralelo a partir do momento que o governo decidiu tornar-se líder em cannabis medicinal. Primeiro chegaram as grandes empresas e depois os especialistas no cultivo. “Eu mudei para a Colômbia assim que soube da legalização”, conta o americano Ryan Douglas, 41. Ele estava no Canadá, onde trabalhou por 5 anos para a Canopy Growth, uma das gigantes do setor.
“A Colômbia tem grande potencial”, explica Douglas. “A produção de cannabis medicinal depende muito das condições do ambiente. Como está na linha do equador, possui 12 horas de luz todos os dias e calor o ano inteiro, o que é perfeito para esse cultivo.” Plantações indoor como as canadenses tem custos mais elevados que as ao ar livre.
Ainda não existem terras cultivadas no país. As empresas estão cumprindo os estágios determinados pela legislação até que tenham todas as licenças. O que não impede de os masters growers estarem a todo vapor, escolhendo as melhores terras e planejando a produção em escala.
“A cannabis medicinal exige uma terra sem contaminação de mineral pesado, pesticidas e agrotóxicos –ou seja, ela deve ser orgânica”, diz Douglas. “Em uma plantação de verdura, por exemplo, as folhas podem ser lavadas, o que diminuiria a contaminação. No caso da cannabis, como se aproveita apenas as flores, que são delicadas, isso não acontece.”
Outro nome de sucesso no mercado colombiano é o do americano Lygle Dillon, 42. Há cerca de um ano, ele trabalhava na pequena fazenda orgânica da família em Humboldt, condado da Califórnia, nos Estados Unidos, onde pensou que ficaria até morrer. Então veio o convite de trabalhar na Colômbia. “Eu aprendi a profissão com meu pai ainda adolescente. Ele plantava verduras e maconha. Uma produção muito pequena.”
A mulher Rachel,43, ficou preocupada. “A Colômbia era um destino muito desconhecido”, diz ela. Já Dillon estava animado, porém surpreso. “O país dos cartéis partia para um mercado oficial e controlado. Além disso trabalhar com um produto medicinal parecia mais desafiador e nobre”, explica Dillon.
No primeiro dia em Cali, ele sofreu um acidente grave. O motorista do carro em que estava dormiu na direção. Dillon perdeu o movimento das pernas, mas não perdeu o ânimo. “Não vou voltar aos Estados Unidos. Continuarei aqui e farei dar certo.”Hoje, há empresas que planejam instalar plantações acessíveis só para recebe-lo. Dillon trabalha como consultor. Profissionais como ele ganham entre US$ 6 mil e US$ 10 mil, ao mês, por cliente.
“As pessoas pensam que os EUA é um país sofisticado. Lá os americanos morrem em um show porque um doido resolve atirar na multidão”, diz a mulher Rachel. “Aqui temos segurança e qualidade de vida.” Para Dillon foi a oportunidade de conquistar um novo horizonte. O mercado global de cannabis medicinal em três anos pode chegar a US$ 30 bilhões.