Israel especializa médicos estrangeiros em Cannabis
Considerado o mais avançado centro de pesquisa em Cannabis medicinal, Israel abre as portas para receber médicos de outros países. O governo inicia o primeiro curso de especialização para estrangeiros no máximo em janeiro.
“Queremos transformar os alunos em novos professores para que a informação se multiplique pelo mundo”, diz Yuval Lanschaft, 57, diretor da IMCA (Agência de Cannabis Medicinal de Israel), unidade do Ministério da Saúde do país. Farmacêutico de formação, ele desenhou a reforma que levou Israel a se preparar para a cannabis medicinal.
Segundo ele, “os médicos precisam conhecer os mecanismos de ação do CBD (a substância terapêutica da Cannabis) no organismo. Só com informação específica, conseguem aptidão para reconhecer os pacientes com indicação à terapia e prescrever a medicação”.
O curso oferece uma imersão de cinco dias. Cada um com oito horas de aula. Os quatro primeiros dias serão preenchidos com teoria, o último, com um tour pelas plantações e estufas de clonagem de cannabis. Os alunos poderão assistir todo o processo produtivo. “Temos 10 mil plantas clonadas.” Segundo Lanschaft, a vantagem da técnica está em produzir mudas com as mesmas concentrações de CBD.
Israel reservou 20 vagas para cada país convidado. Oito nações foram selecionadas, entre elas, Brasil e Alemanha. Porém, só participam os médicos indicados pelas nações. “É um acordo entre estados”, explica Lanschaft. As aulas serão gratuitas.
Hoje o país está exportando o conhecimento que serviu de base para a reforma anterior à legalização da cannabis medicinal, em 2018. Desde 2017, houve série de esforços para qualificar novos profissionais. Primeiro introduziram cursos específicos nas universidades nacionais. Quatro delas já incorporaram a matéria no currículo e capacitaram 200 médicos em Cannabis.
“Israel é um exemplo fora da caixa no mundo. A Cannabis medicinal virou uma política de estado”, diz o professor Alan Vendrame, professor de Relações Internacionais no Ibemec. “Os médicos precisam ser treinados. No Brasil, por exemplo, muitos profissionais não possuem tempo de estudar. Se o estado promove a atualização, acaba protegendo o bem estar do paciente.”
Antes da reforma israelense, os pacientes conseguiam o canabidiol direto com o agricultor. Mas compravam a maconha (a planta inteira) e não apenas o CBD extraído dela. A dosagem dessa substância é fundamental no tratamento. Atualmente, 500 médicos israelenses têm capacitação para prescrever sem precisar da autorização do IMCA. Os demais – os não treinados – precisam do aval do órgão.
No Brasil, não existe exceção. Depois de os médicos prescreverem o tratamento, o paciente ainda precisa esperar a autorização da Anvisa para importar o remédio. Cerca de 900 médicos brasileiros, em média, já deram receita para a compra da cannabis medicinal, de acordo com dados da Anvisa. Aqui, não existe uma política de estado de capacitação.
O investimento em pesquisas também se intensificou. A Faculdade de Farmácia da Universidade Hebraica, de Jerusalém, fundou o Centro Multidisciplinar de Pesquisa em Cannabis. Contratou 27 pesquisadores– ex-alunos de Raphael Machoulan, 88, responsável pela mais importante descoberta na área.
Em 1964, ele foi o primeiro cientista a isolar o THC, substância da planta com princípios psicoativos (que dá o ‘barato”). Um ano depois, identificou o CBD, elemento que provocou a revolução na área médica pelas suas características terapêuticas.
Em janeiro deste ano, Israel liberou a exportação. Há 26 empresas de Cannabis medicinal listadas na Bolsa de Valores de Tel Aviv. Elas equivalem US$ 952 milhões e estão entre as companhias que mais crescem. Estima-se que as vendas internacionais dos remédios gerem uma receita anual de US$ 266 milhões.