Cannabis ganha destaque em feira de varejo em SP

O emergente mercado da Cannabis entrou pela primeira vez na agenda de palestras da Latan Retail Show, maior evento de negócios do varejo no Expo Center Norte, em São Paulo. Ontem, 27, o fórum reuniu quatro players do mercado internacional, com estratégias e propósitos diferentes.

Valéria França, do blog Cannabis Inc, moderou o debate, que contou com a cientista Gabriela Cezar, que atua no Uruguai, André Steiner, na Jamaica, José Bacellar, no Canadá, Colômbia e Brasil.  Também estava presente o pesquisador de mercado Vinnicius Vieira.

Os participantes eram todos brasileiros, que atuam em outros países, enquanto esperam mudanças mais favoráveis aos negócios nacionais. O Fórum foi  o primeiro passo de Marcos Gouveia de Souza, diretor geral da feira, em direção a esse mercado. “Em novembro, vou organizar um evento focado na Cannabis.”

A decisão veio depois que a Hiria, produtora de conteúdo para grandes empresas do varejo, recebeu encomendas de pesquisa sobre o mercado da Cannabis de empreendedores de diferentes setores. “Beleza, saúde, bebida, construção e vestuário são alguns deles”, disse o administrador e sócio Vinnicius Vieira, especializado no perfil do consumidor. “Já existe uma nova economia em torno da Cannabis. Mais de 40 países regulamentaram o uso medicinal e recreativo”.

Gabriela Cezar, sócia da Panarea (pronuncia-se Panaréia) Partners Inc. referendou as considerações de Vieira: “Existe um apelo muito grande do consumidor. Ele quer remédios, cosméticos e bebidas.” Ela tem um polo de laboratórios no Uruguai para abrigar diferentes empresas. “Além de ser muito bem equipado, está na zona franca do país, o que traz benefícios fiscais”, explicou à plateia.“Eu sempre tive preconceito com a maconha. Superei isso porque sou uma cientista.  Os resultados da Cannabis medicinal são muito importantes”, disse.

Foram experiências anteriores profissionais e muitas vezes pessoais que impulsionaram os palestrantes a entrarem no mercado. Por exemplo, dono da White Cloud Mountain Quantum Cannabis, André Steiner, 53, investiu na Cannabis medicinal, depois que a mãe dele morreu de câncer. “Ela foi consumida pela quimioterapia”, lamentou. “Foi uma opção dela. A família tinha de respeitá-la.”

Logo depois, Steiner abriu uma butique de maconha na Jamaica, com objetivos curativos. Para estrutura-la, fechou parceria com a Technion, Instituto de Tecnologia de Israel e com um laboratório genético nos Estados Unidos. Um levanta o perfil genético da planta e o outro, do paciente. “Assim conseguimos identificar o tipo de Cannabis mais adequada e eficiente para cada pessoa”, explica Steiner.

Diferentemente das grandes empresas farmacêuticas tradicionais, que centralizam todas as áreas da cadeia, esses players escolhem associados com expertise complementares. Um caso de relevância é o da VerdeMed, startup canadense, que conseguiu se estabelecer no mercado da Colômbia, no Canadá e no Brasil, em menos de dois anos.

Na Colômbia, fundiram-se com a Greenfarma, laboratório de armazenamento e extração de óleo de Cannabis. A empresa estava fisicamente estruturada e tinha todas as licenças de funcionamento, quando fechou negócio com a VerdeMed. No Canadá, a TIPT, Toronto Institute of Pharmaceutical Technology, é o braço direito da startup. “O laboratório pesquisa e desenvolve três medicamentos que vamos colocar no mercado”, disse José Bacellar, de 54, presidente e fundador da VerdeMed.

Fora esses produtos, a empresa vai disponibilizar o óleo de canabidiol, com apenas 0,3% de THC. Comercializado por diversas empresas, esse produto tem o efeito de um “genérico” que diminui dores, convulsões e espasmos de várias doenças, das mais graves, como epilepsia e câncer, até cólicas.

No início do mês, a VerdeMed lançou –com apoio da Cantera, GreenCare, Hempflex, The Green Hub, Indeov, Hempcare, Spectrum Therapeutics e Abiquifi – a campanha o “CBD legal”, que Bacellar vem divulgando pelo Brasil. Ao alertar que o canabidiol ou CBD não tem efeito psicotrópico, o vídeo pede a liberalização da substância no mercado. Essa é uma das melhorias que as empresas esperam no mercado nacional.