Cannabis é um bom investimento?

O mercado global da Cannabis começou a colher bons frutos este ano, justamente durante a pandemia. As empresas venderam mais e voltaram a crescer. Mas a boa fase ainda não compensou as perdas de 2019. As grandes empresas, como a Canopy e Aurora, continuam enxugando custos para se adequar ao momento, bem diferente do bum de 2016, quando o setor faturou US$ 6 bi ao ano.

Estrategista-chefe da Avenue, corretora de investimentos especializada na bolsa americana, sediada em Miami, William Castro Alves, 36 anos, explica porquê a Cannabis continua um bom negócio –apesar das quedas– e quais os cuidados devem ser tomados ao escolher o investimento. A Avenue é voltada para a clientela da América Latina.

 

O mercado da Cannabis voltou a crescer. Dá para dizer que está em alta?
O mercado sempre exagera para cima e para baixo. As pessoas não olham para os dois lados. Tem de olhar para demanda e a oferta. Imagina o mercado de guarda-sol na praia do Rio de Janeiro. Se tiver muita gente oferecendo, não tem bom negócio. Excesso de oferta empurra o negócio para baixo. Criou-se uma expectativa muito alta em relação à Cannabis. Estamos quebrando alguns dogmas, mas neste último ano sobrou Cannabis no mercado. O resultado ficou abaixo do que se esperava.

Qual foi o erro?
Quando o Canadá liberou a Cannabis, em 2016, falava-se que existia um volume de vendas de 6 bilhões de dólares nos EUA. As projeções futuras foram calculadas em cima deste valor por ano. Isso afetou negativamente todas as empresas. Houve até quem fraudasse os números para ficar dentro da projeção.

Dá para quantificar quanto cresceu e quanto perdeu?
De 2018 para cá houve uma queda de 65% nos valores de ETFs –fundo de valores específicos para Cannabis. As 500 maiores empresas americanas do setor, as mais representativas, subiram 14,5% no mesmo período. É uma discrepância grande. Decepcionaram muito.

Quem investiu desde o início não fez um bom negócio? É isso?
Não foi um bom negócio, mas não quer dizer que não seja um negócio bom. Se analisarmos a Aurora (fundada em 2013), o crescimento da receita foi de 100%. Ela é uma empresa que não existia. Talvez o mercado tenha exagerado e a demanda não seja assim tão alta. As grandes empresas são as mais afetadas e estão reduzindo as operações. Muitos entraram e já quebraram. Os mais capitalizados agora querem sobreviver para passar este momento.

Quais são os desafios?
Tem muitos desafios. A eleição presidencial americana pode ser um baque, caso o Trump seja reeleito, devido ao perfil conservador já conhecido. Mas o governo ganha com este mercado. As empresas de Cannabis (recreacional) pagam impostos bem mais altos, tal qual o cigarro e a bebida. O que é um incentivo. Por outro lado, a aceitação da marijuana vem melhorando. Mais e mais americanos acham que deveria ser regularizada.Tornar este mercado menos obscuro tem muitas vantagens. Abre frentes de trabalho e cria mais para o governo. Graças a Cannabis medicinal, nos EUA haverá uma legalização em nível federal. Não há argumento real para coibir um medicamento com diversos usos, que ajuda em doenças graves. Derrubar os argumentos contrários da sociedade é uma questão de tempo.

Qual o desafio do investidor?
É saber em que empresa investir. Isso é muito difícil. O eBay veio antes que Amazon e veja no que deu. Quem investiu na Canopy necessariamente não vai surfar o eventual bom momento do setor. As métricas financeiras deste setor são muito semelhantes aos demais. Quem investe em um ETF consegue uma cesta de empresas e protege o capital de baques. O setor não depende apenas do desempenho da empresa. Se legalizar amanhã a Cannabis nos EUA, os mais variados perfis de negócios vão surfar na onda.

Para o investidor brasileiro como fica?
Não temos uma indústria para começar  abrir ações na bolsa nacional. A Avenue faz a intermediação e oferecemos cerca de 4 mil ativos para quem quiser investir na bolsa americana, mas a procura pela Cannabis é muito pequena se comparada à tecnologia, por exemplo. Hoje representa 1% da nossa carteira de investidores.