“Se debate do cultivo da Cannabis virar bandeira política, vai doer no coração”, diz pai de paciente

Famílias de pacientes que se tratam com Cannabis medicinal estão preocupados com o caminho da discussão do PL 399-2015. O texto substitutivo, apresentado na terça-feira (18) na Câmara dos Deputados, propõe o cultivo da Cannabis medicinal e industrial. Desde então o debate sobre o tema começou a esquentar entre as bancadas dos deputados.

“Se o debate for transformado em bandeira política vai doer muito no coração das famílias”, diz Norberto Fischer, pai de Anny, a primeira criança a conseguir autorização judicial para importar a Cannabis medicinal em 2014. Na época, o medicamento era proibido pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária).

Vítima de um tipo de epilepsia rara, a síndrome rara CDKL5. a filha de Fischer, Anny, então com 5 anos, tinha 80 convulsões por dia.  “Enquanto a polêmica está apenas nas ideias, eu me sinto mais confortável. É mais fácil fazer alguém mudar de opinião quando se mostra fatos, do que quando luta por uma bandeira política”, explica o pai.

O distúrbio neurológico de Anny provocavam convulsões que duravam até 10 minutos. Isso levou a menina a parar de andar e de comer. Sem ter ainda um suporte legal, os pais conseguiram trazer de fora o CBD (canabidiol), substância da planta considerada um anticonvulsivo. A essa altura os médicos já tinham receitado tudo o que estava disponível no comércio nacional.

A melhora do quadro clínico foi tão significativa com o CBD, que os pais foram à Justiça para regularizar as importações. É preciso olhar para o que de fato acontece, a verdade sobre os remédios”, diz Fischer.

O caso de Anny virou o símbolo da luta das famílias. Tanto que a Abrace Esperança, associação de pacientes paraibana – a única autorizada pela Justiça a produzir a Cannabis medicinal – lançou uma campanha para que o PL -399 seja batizada de Lei Anny Fischer.

 

Abaixo a entrevista com Norberto Fischer:

 

  1. O que você achou de ser homenageado pelo deputado Paulo Teixeira durante a coletiva para explicar o substitutivo do PL 399?
    Norberto Fischer: Tomamos até um susto ao saber que fomos citados por ele. Ficamos muito felizes e lizongeados, quando no meio político se reconhece, assim como a Anvisa uma vez reconheceu, que a reclassificação do CBD e a regulamentação para a produção no Brasil foi uma ação da sociedade. Geralmente quando estas regulamentações ocorrem partem de políticos ou grandes empresas. Quando você vê que a mobilização social está levando a mudanças, a uma regulamentação, causa um sentimento muito positivo. É você ter a ciência de que consegue influenciar, melhorar e transformar o Brasil em um país mais justo e perfeito.

 

 

  1. O PL é um avanço para as famílias?
    NF: Faço uma comparação a 2015, quando reclassificamos o CBD, as pessoas falavam que isso não iria mudar nada. Depois disso reclassificamos o THC, houve o processo de desembaraço aduaneiro, foi criado o painel de evidência da Anvisa, que permitiu a prescrição para epilepsia e para outras doenças. Cada avanço é uma vitória.

 

  1. O que as famílias acharam do O PL?
    NF: Não é o ideal. Mas a política é a ciência do que é possível. Tem a ver com a maturidade dos governantes, dos senadores que irão votar. Se o PL fosse mais agressivo, ele não passava. Estamos muito contentes com o PL 399. Será um avanço se transformado em lei. Cada avanço tem que ser dado dentro no nível de maturidade que a sociedade está preparada para receber. Se em 2015, falássemos em criar uma lei para regulamentar a Cannabis no Brasil, isso jamais passaria.Cada passo, cada avanço tem seu momento e sua maturidade. Hoje o Brasil tem maturidade para aprovar o PL como está.
  1. O senhor acha que o projeto passa na Câmara?
    NF: Acho que o regulatório passa. Hoje mesmo pedi uma reunião com o Osmar Terra (deputado). Estamos batalhando para que o PL seja transformado em lei.
  1. Que recado o senhor deixa para os políticos?
    NF: Não transformem isso em bandeira política. Enquanto o debate está apenas nas ideias, eu me sinto mais confortável. Porque é mais fácil fazer alguém mudar de opinião, quando se mostra fatos do que quando as pessoas lutam por uma bandeira política. Não olhe para o projeto 399, e para a futura Lei Anny Fisher, com olhos de um debate político. Conheçam os fatos. Vejam a realidade das informações. Conversem com as famílias que estão usando os medicamentos importados. Quando os políticos conhecerem a qualidade de vida das pessoas, que estes remédios estão assegurando qualidade de saúde, não terão como não apoiar o PL.