Setor calcula redução de 1/3 no preço do medicamento com cultivo da Cannabis

As empresas de Cannabis medicinal já começaram a calcular os custos, caso o Brasil regule o cultivo da Cannabis medicinal. Em agosto, o texto substitutivo do PL 399-2015 foi apresentado na Câmara dos Deputados. Ele regula o plantio da Cannabis medicinal e do cânhamo industrial.

O setor é unânime em dizer que haveria uma queda significativa do custo do tratamento. Segundo Cristiana Prestes, CEO e fundadora da HempCare, o paciente pagaria 1/3 do preço atual.

Uma empresa com medicamento importado registrado no Brasil paga o extrato da substância isolada da Cannabis (como o THC e o CBD) entre US$ 70 a US$ 80, de acordo com a New Frontier Data. A matéria-prima faz parte do custo de produção, que no total corresponde a 19,75% do preço do produto vendido. Entram no cálculo 13,75% referente aos impostos, 15%, ao armazenamento, 10%, à distribuição, 40%, à margem das farmácias e 1,5%, ao lucro do produtor.

De acordo com a empresária a produção no exterior sai muito mais alta devido ao câmbio do dólar. “O imposto da importação também pesa”, diz ela. Abaixo a entrevista da empresária:

 

Dá para calcular quanto o preço do medicamento final cairia para o consumidor, caso o cultivo seja aprovado?
Cristiana Prestes: 
Sim, acho que todos da indústria já fizeram este cálculo. O custo para o consumidor final reduziria para 1/3, dependendo da margem do fabricante. Facilitaria bastante o acesso. Hoje você não consegue colocar no mercado um medicamento registrado no Brasil por menos de R$ 1,5 mil. O preço é composto pelo custo da matéria-prima, do distribuidor nacional, dos impostos e da margem de lucro das farmácias. O próprio SUS (Sistema Único de Saúde) poderia tabelar o preço. O cultivo permite que o Brasil produza remédios com preços acessíveis, tanto para os consumidores finais como para o SUS (Serviço Único de Saúde).

Quando se analisa o cálculo da composição do preço do medicamento, o que parece pesar muito é a margem das farmácias. Não dá para mudar isso?
Cristiana Prestes: Poderia mudar se o governo abrisse dispensários (armazéns de venda específica de Cannabis medicinal) controlados pelo governo como no exterior. Eles não cobram margem e também eliminam as taxas da distribuição.

No cultivo, qual é o tempo que um investidor demora para ter o retorno do capital?
Cristiana Prestes: Cerca de dois anos. Mas se o SUS for comprar e os fabricantes também, você planta a quantidade certa de venda por ano.

Qual o investimento de uma plantação de Cannabis?
Cristiana Prestes: Um cultivo em estufa ,de 10 mil m2, custa R$ 10 milhões .

Muitas pessoas reclamam que o PL 399-2015 não regula o autocultivo. Como você avalia isso?
Cristiana Prestes: Eu sou contra o autocultivo doméstico. Acho que viraria uma bagunça. Mas o governo poderia vender a grama in natura de forma regulada. Neste caso, o paciente seria autorizado a comprar apenas a quantidade prescrita na receita médica, como acontece hoje na Flórida. Sei que isso seria o começo para a abertura de um possível uso recreativo. Mas é uma forma de sair do mercado paralelo e atender todo mundo. Quem quer fazer o próprio medicamento compra o produto in natura.