Porta-voz e mãe da Cannabis ensina o cultivo doméstico a pacientes
A luta pelo direito ao tratamento medicinal da Cannabis começou com os pacientes e familiares, que se organizaram em associações, ao longo de uma década. Hoje há 21 delas que se destacam pelo tamanho e atuação no setor.
Enquanto umas tocam o cultivo associativo, outras ensinam às pessoas a plantar, para que cada paciente possa fabricar o próprio óleo em casa. Este é o caso da Cultive, que nasceu em 2013, quando Cidinha Carvalho resolveu produzir o óleo para a filha Clarian. Ela sofre de Síndrome de Dravet, doença marcada por severa epilepsia refratária aos tratamentos clássicos. Cidinha conseguiu autorização da Justiça para o cultivo doméstico e assim produzir o remédio da filha. O habeas corpus é individual e não vale para a Cultive.
“A associação incentiva o auto cultivo e extração do óleo com base nas boas práticas de plantio, provando que é possível o paciente produzir o próprio remédio”, diz Cidinha. “Isso não tem volta. Cada vez mais, o número de adeptos aumenta. As autoridades não podem fingir que o cultivo individual não acontece e simplesmente criminalizá-las.”
A maioria destas associações não possuem autorização da Justiça para funcionar. Praticam e incentivam o que costumam chamar de “desobediência civil pacífica”. “Continuaremos nesta luta até que tenhamos uma regulamentação que seja justa, onde ninguém mais possa ser criminalizado pelo uso ou pelo porte da planta, que nenhuma guerra contra pobre e preto possa ser justificada pela droga –e que seja tratado como saúde pública e não pela polícia.”
Cidinha virou uma das porta-vozes da Cannabis medicinal. Na audiência pública sobre o texto substitutivo do PL 399-2015, que propõe o cultivo, realizada virtualmente na última terça-feira (1º), ela foi a primeira a dar seu depoimento.
“Se eu tivesse esperado pelo governo minha filha provavelmente não estaria aqui”, disse aos deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Luciano Ducci (PSB-PR), da Comissão Especial da Cannabis, organizada para analisar e redigir a nova versão do PL 399-2015, de autoria do deputados Fábio Mitidieri (PSD-SE).
Abaixo três perguntas respondida por Cidinha ao Cannabis Inc sobre o PL:
- Você acredita que a lei vai passar?
Cidinha Carvalho: Eu acredito que haverá uma regulamentação, mas ninguém sabe quandoEstamos num cenário político duvidoso no Brasil, onde a ciência é ignorada e a bula de um remédio vale mais do que evidências científicas. - Qual o recado que você daria a oposição?
Cidinha Carvalho: Que não há retrocesso, a maconha é o remédio do agora e o auto cultivo e associativo já é uma realidade que vem salvando a vida de muitos. Não ignorem o fato, se buscamos por uma regulamentação é porque ninguém quer ser tratado como criminoso. - Qual o recado que você daria aos deputados do congresso que possuem a missão de voltar no PL?
Cidinha Carvalho: Não há mais o que provar. Espero que tenham um olhar mais aberto a todas as evidências científicas que existem no mundo. O está atrasado. Há 50 anos, o Dr Elisaldo Carlini (professor da Unifesp) provou os efeitos terapêuticos da maconha. Hoje nós somos os necessitados, amanhã poderá ser você.