Sucesso do THC no tratamento de Alzheimer leva à pesquisa ampla

Valéria França

O caso experimental de sucesso abriu caminho para novas perspectivas para doenças neurodegenerativas. Foram mais de dois anos de tratamento e acompanhamento de um paciente com Alzheimer, de 75 anos, que recebeu doses baixas de THC (tetrahidrocanabidiol, uma das substâncias da Cannabis). O doente recuperou  a cognição e o reconhecimento espacial. Chegou ao nível de uma pessoa sem a doença e manteve os ganhos durante todo o período de acompanhamento.

“O resultado é excepcional e confirma dados anedóticos de pacientes que se encontram na internet. Mas ninguém ainda mostrou isso com dados científicos. Estamos correndo pra publicar”, diz o professor de Medicina e Biociência Francisney Nascimento, 38, da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) em Foz do Iguaçu.

Nascimento resolveu colocar em prática um estudo amplo randomizado e duplo cego. “Durante 12 meses, 36 pacientes serão avaliados no humor, depressão e dosagens bioquímicas (proteínas), que aumentam em pacientes com Alzheimer”, explica ele.

Metade dos pacientes receberão micro doses de THC, 1 mg. “Para ter uma ideia, esta quantidade equivale a 100 vezes menos do que a encontrada em um cigarro de maconha”, diz Nascimento.  “O THC é administrado em gotas uma vez ao dia e não induz a nenhum efeito colateral se não leve diarreia nos primeiros dias em alguns pacientes, devido ao perfil gorduroso do óleo.” Os demais tomarão placebo.

Um estudo publicado na revista científica Nature, em 2017, já apontou o THC como um indutor da formação de neurônios no hipocampo (principal sede da memória e do sistema límbico). Teste em ratos e animais idosos mostraram que ajudou na melhora justamente da melhora.

Nascimento explica que depois dos 65 anos, o organismo perde canabinoides, o que aumenta a suscetibilidade às inflamações e doenças degenerativas, entre elas, o Parkinson e o Alzheimer. “Os pacientes que sofrem com enxaqueca, por exemplo, possuem menos canabinoides no corpo.” Os estudos apontam que há uma queda dos receptores de canabinoides e dos próprios canabinoides, que circulam no organismo.

Nascimento: pesquisa com THC em pacientes de Alzheimer. Foto: Divulgação

Mentor do estudo, Nascimento conta com parceiros com expertise na área de Cannabis, caso de Fabrício Pamplona, neurocientista em canabinoides, e a Abrace Esperança, associação de pacientes da Paraíba, que fornecerá o medicamento para os pesquisadores. O responsável técnico da pesquisa é o neurologista Elton da Silva, professor da Unila. “Pretendo fazer o maior estudo da literatura internacional do tema”. Para os pacientes e familiares, é sem dúvida uma grande esperança.