O americano está menos conservador?

Oregon foi o primeiro estado americano que aprovou a descriminalização do uso e da posse de pequenas quantidades de diversas drogas, incluindo a maconha e a cocaína. Cinco estados americanos aprovaram alguma forma de uso da Cannabis (Arizona, Dakota do Sul, Nova Jersey, Montana e Mississipi). Tudo isso, na última terça-feira (3), quando 32 estados foram às urnas votar em plebiscitos sobre vários temas, entre eles, as drogas. Será que os americanos estão menos conservadores?

“Acho que esta interpretação não é correta”, diz Alan Vendrame, coordenador do curso de Direito e Relações Internacionais do Ibemec. “O movimento político e de legalização das drogas estão dissociados. Tanto democratas como republicanos votaram na legalização da Cannabis.” Isso explicaria porque estados conservadores como Mississipi e Dakota do Sul legalizaram pelo menos algum tipo de uso da maconha. Em entrevista, Vendrame explica o que se passa nos EUA.

O que mudou para isso acontecer?
Alan Vendrame: Nos últimos anos, depois que estados importantes como Washington legalizaram a maconha, a população percebeu mais pontos positivos que negativos. Os americanos são muito pragmáticos. O governo arrecada tributos, um novo mercado se estabelece, aumenta a demanda de empregos e ainda há benefícios terapêuticos.

 Mississipi autorizou apenas a Cannabis medicinal. O que isso quer dizer na sua opinião?
A.V.:
Eu entendo que Mississipi ainda tem dúvidas em relação a legalização. Mas não é proibicionista.

O senhor acha que os americanos votaram mais porque tinham que estar lá por causa da eleição presidencial?
A.V.: Não. Na minha opinião aconteceu ao contrário. Houve uma presença maior nas eleições para presidente por causa dos plebiscitos. Os americanos estão mais ligados às questões do cotidiano do que da política. Na Flórida e na Columbia, decidiram o vínculo empregatício de motoristas de aplicativos. Essa foi uma eleição muito sui generis.

Houve também estados que descriminalizaram, mas não legalizaram. O senhor não acha isso confuso?
A.V.: É confuso sim. A descriminalização significa que o uso próprio não é crime. Mas não permite a criação de um comércio. Já a legalização é um passo a mais que a descriminalização.

O senhor ficou surpreso com o fato de alguns estados terem aprovado drogas alucinógenas?
A.V.: Na verdade, não. Como essas drogas não estão ligadas à , violência, abstenção no trabalho, nem violência doméstica, não são consideradas perigosas. Há também estudos científicos usando este tipo de drogas em ambiente terapêutico. Deve ter uma recorrência de pedidos de uso medicinal e por isso foi proposto a população.