Coordenador do ambulatório de Cannabis do Hospital Sírio Libanês fala sobre as expectativas do novo centro

O crescimento do número de evidências positivas no uso medicinal da Cannabis levou a abertura de um ambulatório especializado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Uma decisão pensada e desenhada ao longo de dois anos pelos gestores, que veio referendar o uso científico e medicinal da planta tão polêmica.

O hospital é conhecido pela eficiência no tratamento do câncer. Lá, antes mesmo de abrir o ambulatório, pacientes oncológicos já recebiam prescrições do extrato de Cannabis, composto por substâncias derivadas da planta.  “Atualmente ela é uma das ferramentas nos cuidados paliativos do paciente”, diz Daniel Neves Forte, 44 anos, especializado em cuidados paliativos e coordenador do ambulatório do Sírio Libanês.

Em outras palavras, ela é indicada para melhorar o bem-estar do doente. Alivia as dores e as náuseas provocadas pela quimioterapia, por exemplo, que é o tratamento específico para o combate das células cancerosas. Forte contou para o blog como o centro foi montado e quais são as expectativas dos gestores. Leia a entrevista abaixo.

Quando o Sírio Libanês decidiu começar o ambulatório de Cannabis que inaugurou no fim do ano passado?
Daniel Neves Forte: A discussão sobre o ambulatório tem dois anos dentro do hospital. Foi quando percebemos as evidências se acumulando em exponencial crescimento, decidimos que era a hora de desenvolver o conhecimento e a assistência. Há muitos pacientes oncológicos que fazem uso da Cannabis medicinal para aliviar as dores.

O senhor acha que a Cannabis medicinal pode ter mais aplicações a serem exploradas?
DNF: Existem algumas prescrições para algumas indicações. A gente sente que as pessoas têm uma visão entre o místico e o mágico do que é a ciência. Mas a ciência só é produzida através da comunidade. Sentimos falta de uma comunidade que possamos discutir. Precisamos de um grupo científico para discutir se foi bom, para promover melhoria no conhecimento. De fato, existem evidências recentes e elas não dão conta de tudo. Tem uma área de conhecimento a ser explorado, que um hospital de excelência deve desenvolver dentro de todas as normas éticas

 O ambulatório vai funcionar apenas na área do câncer?
DNF: Criamos um núcleo com nove subáreas. Tem clínica médica, tratamento de dor, neurociência, pediatria e cuidado paliativo. Cada uma dessas áreas é coordenada por um  médico de referência da área. Cada área tem um médico responsável.

Quais são os especialistas que participam deste centro?
DNF: Paula Dall’ Stella (integralista), Alberto Helito (pediatra), Cristiane Koga (neurologista infantil), Vinicius Barbosa (especializado em autismo), Daniel Ciampi (neurociência), João Valverde (dor), Felipe Duarte (coordenador da clínica médica), eu e Rodrigo Sacche.

Haverá pesquisa clínica em Cannabis?
DNF: Já oriento uma pesquisa de mestrado em cuidados paliativos com a Cannabis. Encontrar o melhor benefício para a pessoa naquela circunstância interessa muito. O mestrado é no Sírio mesmo. O meu aluno é um médico que entrou para o núcleo.

Cuidados paliativos é uma área que vem ganhando destaque?
DNF: Sim. As evidências científicas estão aumentando. Temos meta análise dos estudos passados. Ela é uma avaliação da qualidade da evidência. A grande questão em medicina é dar graus para as evidências. Quando todos os estudos randomizados são colocados em comparação vemos que os cuidados paliativos dão resultado. O número de evidência cresce vertiginosamente.

A Cannabis funciona bem na área de cuidados paliativos?
DNF: A Cannabis é sem dúvida uma ferramenta eficiente nesse tipo de tratamento. E uma ferramenta no melhor sentido. Por exemplo, ninguém pode ser a favor ou contra o martelo, mas em relação ao uso dele.

 Como os pacientes entram em contato com o Ambulatório de Cannabis?
DNF: O nosso número de contato é 55 11 3394-5007. Mas ainda estamos no começo. Em outras palavras, temos poucas agendas disponíveis. Começamos pequenos. Mas o importante é que podemos avaliar, triar os casos indicados ou não. Cannabis medicinal não é uma panaceia.