Parcerias fazem o setor da Cannabis crescer mesmo na crise em 2020
Para driblar a crise desencadeada pela pandemia do coronavírus, o setor de Cannabis medicinal encontrou nas parcerias uma saída para dar fôlego e até expandir os negócios em 2020 no Brasil. Uma alternativa à fuga dos investidores, que preferiram as áreas mais conservadoras– como a de imóveis e de tecnologia– às inovadoras, porém, mais arriscadas, caso da Cannabis.
Os empresários do setor conseguiram reunir colaboradores dispostos, por exemplo, a trocar insumos por marketing, exclusividade por logística, expertise por gestão, entre outros. Trata-se de um jogo de ganha-ganha entre parceiros cuidadosamente escolhidos, que deu novos ares aos negócios. O ano de 2020 foi, sim, difícil, mas nem por isso o setor deixou de crescer.
Em outubro, o CEC (Centro de Excelência Canabinóide), clínica especializada em Cannabis medicinal, localizada na capital paulista, expandiu. Abriu duas unidades no Espírito Santo. Levaram a expertise médica para uma clínica, que já possuía recursos necessários para carregar o nome do CEC.
“O CEC ficou incumbido de treinar os médicos que passaram a atuar em uma estrutura mais enxuta, quando comparada a clínica de São Paulo, montada pelos parceiros”, diz Marcelo Sarro, CEO do CEC. “Estudamos o negócio com muita cautela para que a unidade refletisse o espírito e a qualidade do negócio original.” O parceiro em questão é o capixaba Marcílio Riegert, que também ficou responsável pela gestão.
Foi também através de parcerias que o CEC abriu o atendimento às famílias, cujos pais não têm estofo financeiro para bancar o tratamento. O valor de uma consulta ali é cerca de R$ 1.000. A clínica escolheu 12 crianças com doenças crônicas, como epilepsia, autismo e hiperatividade para tratar gratuitamente. Para o prosseguimento da ação beneficente era necessário conseguir os doadores de medicamentos de Cannabis. “Foi uma surpresa, conseguimos seis marcas. No início achamos que não conseguiríamos nenhuma”, explica Sarro.
Outra parceria inteligente foi a da canadense VerdeMed, fabricante de medicamentos à base de Cannabis, com o empresário carioca Felipe Belo, 34. A princípio, ele queria pesquisar e produzir um novo medicamento de Cannabis. De início, ele se aproximou da Lotusfarma, laboratório que está no mercado há uma década, produzindo medicamentos homeopáticos, vitaminas, entre outros relacionados à medicina integral.
“Mas eu não conhecia o setor da Cannabis. Partir do zero seria um trabalho longo, principalmente em uma época economicamente difícil”, explicou Belo. Ele já havia aberto a LotusMed Brasil, o braço canábico da Lotusfarma. Foi então que surgiu a oportunidade de negociar com a VerdeMed.
“A Lotusfarma possui 300 médicos e 15 mil pacientes, enquanto a VerdeMed, 7 produtos de grau farmacêutico no Canadá e nos EUA”, conta Belo, que revela ter hoje a exclusividade da venda dos medicamentos no Rio de Janeiro. “Com isso, ganhei a oportunidade de conhecer melhor o setor antes de partir para a fabricação de um medicamento próprio. Por outro lado, a VerdeMed ganha uma estrutura pronta de distribuição e a exclusividade da nossa rede de médicos.”
Para este ano, Belo prevê a venda de 1,5 mil unidades de medicamento e de 4 mil para 2022. “Foi um excelente negócio para expandir nossa marca no Rio de Janeiro”, diz Fabio Lampugnani, diretor da empresa na América Latina.
“As parcerias são ainda mais interessantes para as empresas estrangeiras, que querem se estabelecer no Brasil. Ao encontrar um parceiro local, a empresa tem mais segurança, pois o mercado nacional é complicado até para os brasileiros”, diz Alex Lucena, head de inovação da Green Hub, aceleradora de negócios. “Os investidores estrangeiros estão de olho no Brasil, mesmo com o mercado de Cannabis incipiente que temos.” Ele ainda dá a boa notícia: “fomos procurados por alguns deles.” Ou seja, muito provavelmente, novos negócios estão para aterrissar por aqui.