Ex-presidente Latam da Aurora, a gigante da indústria da Cannabis, entra com novos negócios no mercado brasileiro

Uma nova aquisição anunciada nesta quarta-feira (17) mostra o potencial do Brasil perante o mercado internacional de Cannabis. A empresa uruguaia de cultivo PucMed (Productora Uruguaya de Cannabis Medicinal) fechou parceria com CCB (Cannabis Company Builder)– que, digamos, é uma holding desenvolvedora de startups–  e passam a operar juntas no mercado brasileiro.

Por trás da CCB está o uruguaio Alejandro Antalich, 48,– a cereja do bolo deste negócio– que fez carreira na indústria farmacêutica e há seis anos entrou para o mercado canábico. Foi  presidente na América Latina de uma das maiores empresas do mundo de capital aberto de maconha, a canadense Aurora, e montou a ICC (International Cannabis Corp), que detém 70% do mercado uruguaio.

No ano passado, a ICC fez a maior exportação de flores de Cannabis do Uruguai. Vendeu 1.421 kg da mercadoria para a Fotmer Life Sciences, de Portugal. Depois disso, em setembro, a Aurora adquiriu a ICC de Antalich por US$ 290 milhões.

O empreendedor ainda montou a CCB em março, em Montevidéu, desta vez com um diferencial: ser uma empresa voltada ao desenvolvimento de startups do setor, que ocupem as mais diferentes posições dentro da cadeia de produção, do plantio ao medicamento. Para isso, a empresa reuniu um grupo de profissionais com diferentes expertises e muita experiência na criação de startups. “A meta é chegar a um portfólio de até de 10 empresas”, diz Antalich.

Sobre a PucMed, ela surgiu há três anos e em 2019 se estabeleceu em Curitiba com o objetivo de importar e distribuir medicamentos à base de Cannabis no Brasil– o que promete fazer no segundo semestre deste ano.  Atualmente é uma das quatro startups da CCB, que ainda detém uma empresa de medicamentos à base de cânhamo (Camino Florido), de pesquisa e de desenvolvimento de novos medicamentos (Grasscann) e de inovação terapêutica (Skye Biopharma). Antalich conversou com o Cannabis Inc sobre a nova parceria com a PucMed e o mercado de Cannabis. Abaixo a minha exclusiva com o empreendedor.

 

Por que o senhor decidiu investir no Brasil?
Alejandro Antalich: Precisamos reinventar. Não queremos cometer os mesmos erros passados. Minha empresa, a CCB,  é inovadora. Eu tenho um amor especial pelo Brasil. A ideia é decolar no neste mercado, que tem regulação e importantes atores do setor farmacêutico e de outras indústrias.

Quais os motivos de o senhor incorporar a PucMed?
AA: Não temos apenas uma vertical da indústria. Nossa meta é ter empresas que juntas completem toda a cadeia da Cannabis, da semente ao produto final entregue nas mãos do consumidor. Acho que vamos nos posicionar muito rápido no Brasil. A PucMed tem expertise. É uma empresa de plantio, uma atividade que no Brasil ainda não é permitida.

Pode me explicar a parceria com a PucMed? A CCB adquiriu a empresa?
AA: 
Não foi uma aquisição. Ela foi incluída no nosso portfólio com uma operação de swap de ações ( a CCB passou a ser dona de 5% da PucMed e vice-versa).

O mercado americano está mais desenvolvido e com boas perspectivas graças à eleição do presidente Joe Biden. Então por que entrar no Brasil e não nos EUA?
AA: 
Os EUA significa 50% de todo o mercado legal de Cannabis. Para entrar lá, é preciso ter muito mais capital. O mercado brasileiro não está posicionado, é emergente, porém, tem regulação. Seguramente muitos novos empreendimentos vão aportar aqui.

A insegurança jurídica dos negócios no Brasil não atrapalha?
AA: 
As relações internacionais e pessoais fazem mais do projeto do que a seguridade jurídica.Há bons sinais. O fato de uma empresa de medicamentos de Cannabis estar no SUS é um bom indício. Além disso, o novo posicionamento dos EUA em relação à Cannabis também vai repercutir no Brasil.

O que o senhor aprendeu no tempo que permaneceu na canadense Aurora?
AA: 
A Aurora é uma corporação que maneja muitas áreas de Cannabis. Aprendi a avaliar com experiência científica e isso foi o maior legado. No Canadá, o uso da Cannabis medicinal foi legalizado há muitos anos (2001). A experiência que existe em uma empresa como a Aurora é imensa. Ela atende 100.000 pacientes através das clínicas.

Qual o melhor negócio que o senhor visualiza no setor no Brasil?
AA: 
O Brasil é um ótimo mercado para clínicas, mas acho que o país pede hoje que os ensaios clínicos sejam validados internacionalmente, com os prós e contras. O fator humano é o mais importante, portanto, eu diria que o desenvolvimento científico está em primeiro lugar.

O grande atrativo do Brasil está no volume de habitantes?
AA: O volume de pessoas e a regulação, que pode abrir muitas portas. O medicamento de Cannabis – nacional ou importado– não é acessível aos brasileiros, mais especificamente para 98% da população. Se as empresas trabalharem com os reguladores, poderemos chegar a um ponto razoável para que seja acessível a maior parte das pessoas.

Qual a vantagem do medicamento de Cannabis quando comparado aos tradicionais da farmácia?
AA: A Cannabis medicinal reduz os efeitos secundários que um medicamento comum provoca. As contraindicações dos fármacos são imensas. Se você parar para ler a bula , com certeza perderá a não a vontade de tomar o medicamento. A Cannabis não tem contraindicações e ninguém morreu por doses maiores. A inserção da Cannabis vai diminuir o custo da Saúde. O Brasil tem um custo altíssimo com medicamentos. Propomos diminuir esta carga. A Cannabis medicinal não causa efeitos secundários e pode ter muitas soluções para diversas patologias ao mesmo tempo. É um bom negócio para o Estado e para a população.

Os fundadores da CCB: da esquerda para direita no sentido horário: Alejandro Antalich, CIO; Joaquin Garcia, CFO; Rodrigo Rey, COO e ; Andrés Isarael, CEO