Aumento de casos de ansiedade leva à clínica carioca de Cannabis a expandir unidades
Apesar dos grandes danos desencadeados na economia mundial, a pandemia trouxe crescimento para alguns setores, principalmente aos negócios ligados à saúde. Entre eles, a Cannabis medicinal, que despontou como aliado no combate ao estresse, a angústia e a depressão causados pela ameaça do coronavírus.
O aumento das clínicas canábicas é um termômetro deste movimento. Novas empresas surgiram no ano passado, outras expandiram, como o CEC (Centro de Excelência Canabinóide), aberta em São Paulo, em 2020. No mesmo ano, inaugurou a segunda unidade no Espírito Santo. No entanto, a única que mediu o porquê deste crescimento foi a clínica carioca Gravital, especializada no tratamento com Cannabis medicinal, aberta em novembro de 2019 –quatro meses antes do primeiro lockdown das principais capitais brasileiras.
“Em junho de 2020, três meses depois da chegada oficial da pandemia, a clínica recuperou o mesmo número mensal de pacientes de antes do fechamento do lockdown, devido as buscas pelos tratamentos de ansiedade. Estávamos trabalhando só com teleatendimento”, diz o economista Joaquim Carlos, sócio-fundador da Gravital, que não esperava pelo resultado positivo.
“As pessoas ficaram ansiosas com a Covid e os reflexos interpessoais e financeiros causados pela doença. Por outro lado, não queriam tomar remédios tarja preta. Buscavam uma alternativa natural e com menores efeitos colaterais.”
Carlos entrou no mundo da Cannabis medicinal em 2016, investindo em startups no Canadá e EUA. Porém apesar do conhecimento adquirido no setor, como todos os empreendedores, nunca havia passado pela pandemia e não sabia o que viria pela frente.
Em setembro do mesmo ano, a Gravital abriu a segunda unidade em Porto Alegre. Nesta semana, anunciou a inauguração de mais três unidades ainda neste primeiro semestre de 2021. A terceira unidade será em Curitiba, a quarta na Praia Brava, em Santa Catarina, e a quinta, em São Paulo, na Avenida Paulista, cartão-postal da cidade, próxima ao Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Na coordenação executiva das clínicas está o jovem psiquiatra Pietro Vanni, que costuma revelar a preocupação com o efeito dominó das drogas psiquiátricas tradicionais no organismo. Muitas vezes o clínico fica sem saber se o doente com depressão passa a ter diabete por causa de um dos medicamentos receitado, por exemplo. Outra dúvida é se a prescrição de remédios complementares são necessários devido a um desequilíbrio provocado pela primeira medicação. Por esses e outros motivos, a Gravital tem a Cannabis medicinal como um tratamento seguro.
Outras clínicas canábicas também expandiram neste ano de pandemia. É o caso do CEC (Centro de Excelência Canabinóide).
Abaixo a entrevista com Joaquim Carlos sobre a expansão da clínica e o que vem acontecendo com a população durante a pandemia.
Quantos pacientes a Gravital atendeu em pouco mais de um ano de existência?
Joaquim Carlos: Já passaram pela clínica 1200 pacientes.
A ansiedade corresponde a que porcentagem dos casos?
JC: Desde a inauguração, ansiedade (39%), Parkinson (9%), Alzheimer (8%), fibromialgia (8%), depressão (8%), autismo (5%) e dor crônica (4%) são as doenças mais tratadas em nossos consultórios. Somadas, elas representam 81% dos atendimentos.
O paciente chega à clínica pedindo por este tipo de tratamento?
JC: Sim. Ele procura a clínica depois de ter ouvido falar do tratamento por um familiar ou médico. Muitos já leram algo a respeito na imprensa. Ele chega quase sempre com o diagnóstico formado por outro profissional e de alguma maneira já foi informado sobre a condição clínica em que se encontra. Tem consciência de que é um paciente em potencial para o tratamento com a Cannabis medicinal e pode se beneficiar com isso.
Apesar da expansão física da Gravital, os atendimentos continuam pela telemedicina?
JC: Sim. Todos os médicos seguem fazendo telemedicina e o atendimento presencial.
Há algum tratamento de prevenção da Covid com canabinoides, como reforço de imunidade?
JC: Estamos acompanhando os casos de perto e compartilhando entre as equipes. Mas ainda evitamos associações. O tema ainda está muito politizado. Ainda estou pensando em como nos posicionar. Na verdade, os médicos estão mais conservadores nesse assunto. Dá para entender a cautela, porque a opinião deles será levada em conta e possivelmente contestada.
Qual é a maior barreira do tratamento?
JC: Ainda é o custo do medicamento.
A Gravital então encerra o ano com cinco unidades?
JC: Não. Com oito, muito provavelmente. Devem ser abertas mais três unidades o segundo semestre. Mas este negócio ainda é sigiloso e não posso dar detalhes.