Crescimento do mercado de Cannabis leva à abertura de pós-graduação para médicos

Primeiro vieram os cursos pockets de Cannabis medicinal. Patrocinados por laboratórios e importadoras de medicamentos, tinham a missão de explicar aos interessados o que são e como agem os canabinóides. Duravam um fim de semana. E não havia muito mais que isso no mercado de ensino.

Um ano depois de a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) permitir o registro de produtos de Cannabis no Brasil, as opções aumentaram significativamente em número e qualidade. Atualmente há cursos mais densos e até de pós-graduação sobre o tema.

Só neste mês de março, dois novos players de ensino abriram as portas aos médicos. Um deles é a o grupo paulistano de educação Ânima, que reúne diversas faculdades pelo país, entre elas, as da Universidade São Judas Tadeu, que agrupam 140 mil aluno. É presidido por Marcelo Batistela Bueno e tem na  presidência do Conselho Daniel Castanho.

Com o apoio da empresa de Cannabis medicinal OnixCann, a Ânima abriu a Especialização em Cannabis Medicinal,  pós graduação voltada aos profissionais da saúde, com 420 horas. A aula inaugural foi administrada pelo neurocientista Sidarta Ribeiro, professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em março (1º).  Ribeiro é conhecido como um grande especialista na área de Cannabis, sempre presente em congressos e discussões sobre o tema na saúde.

Sidarta Ribeiro: especialista inaugura curso de pós-graduação da Ânima. (Foto: divulgação).

“As recentes mudanças no âmbito regulatório aqueceram as discussões no setor público e privado. O interesse de médicos, pacientes e profissionais da área da saúde cresce à medida que as evidências e a prática clínica comprovam os efeitos positivos da planta”, diz Jaime Ozi, vice-presidente da OnixCann.

Outra novidade é a plataforma WeCann de ensino e prescrição de Cannabis, formada por médicos e feita para médicos. “Vamos oferecer uma apostila digital. A maioria dos cursos é gravado, o da WeCann será ao vivo. Isso favorecerá discussões entre os grupos”, diz a neurocirurgiã Patrícia Montagner, 36, idealizadora da plataforma. “Ainda há um vale muito grande entre os estudos e a vida real.”

Patrícia Montagner: plataforma destinada ao ensino médico. (Foto:divulgação).

Montagner começou na área da Cannabis em 2015. Atualmente acompanha 900 pacientes, tratados com Cannabis medicinal. “Recebo pacientes de todos os pontos do país. Em geral, os médicos não sabem a importância dessa ferramenta de tratamento”, diz. “Acho absurdo um paciente de fibromialgia não saber que ele tem essa opção. Antidepressivo, anticonvulsivante, relaxante muscular, opióide e indutor do sono têm muitos efeitos colaterais e resultados pequenos.”

O primeiro curso abriu este mês. A duração é de sete semanas, sendo uma aula por semana. “Preconceito e ignorância devem ser combatidos com informação”, diz Montagner. “Nossa vantagem é saber do que o médico precisa.”

Quem saiu na frente deste processo foi a Universidade Federal de São Paulo, com um curso aberto e gratuito reconhecido pela comunidade médica. A instituição já está na 5ª edição, que começou em março, com a coordenação da professora Eliana Rodriguess, da (Unifesp Universidade Federal de São Paulo), com 36 horas de aulas teóricas e 14 horas de prática.

O pioneirismo da Unifesp tem a ver como o médico psicofarmacólogo e professor Elisaldo Carlini, que faleceu em setembro de 2020, aos 90 anos, de câncer. Pesquisador do potencial terapêutico da Cannabis, ele estudou por 50 anos os canabinoides e estimou projetos e cursos nesta área.