O médico que virou o influencer da Cannabis medicinal

O neurocirurgião Pedro Pierro, 47, é uma das figuras mais conhecidas da Cannabis medicinal e não é porque seja um grande frequentador das redes sociais. De uma forma mais clássica – tanto quanto a gravata borboleta que usa frequentemente –, a fama do médico tem a ver com conhecimento sobre o tema e o trabalho discreto que faz nos bastidores.

Ele dá assessoria técnica em um site segmentado no assunto, o Sechat, comanda duas clínicas de Cannabis medicinal, uma em São Paulo e outra em São Caetano do Sul, e até pouco tempo fazia parte da Green Hub, aceleradora de startups. Também dá cursos de especialização para médicos de Cannabis medicinal.

Em outubro do ano passado, mais especificamente no dia das crianças, o médico inaugurou um setor de atendimento infantil no Centro de Excelência Canabinoide (CEC), a clínica que mantém com sócios, em São Paulo, próximo ao Hospital Sírio Libanês.  Batizado de 4Kids, o departamento seleciona crianças cujos os pais não possuem condições econômicas de custeá-lo.

Os médicos do CEC começaram atendendo dez crianças. Pierro conseguiu fechar com seis empresas de Cannabis medicinal para a doação do produto, o óleo de canabidiol. Para dar uma ideia de quanto um paciente teria de desembolsar: a consulta na clínica sai por volta de R$ 1.000, um vidro importado do produto custa em média R$ 500. Se tem o produto nacional? Sim, mas há apenas uma empresa produtora, que cobra R$ 2.500, o vidro de 30 ml.

Dependendo do tipo de disfunção, o doente toma um ou dois vidros por mês. Consciente da dificuldade de muitas famílias, depois de seis meses de negociação com um laboratório americano, ele conseguiu que nove crianças da APAE de São Caetano do Sul recebam o canabidiol gratuitamente por 9 meses.

“Quando a gente melhora a qualidade de vida de uma criança, a gente está ajudando a família inteira”, disse durante a cerimônia de lançamento da parceria entre a Apae e o laboratório americano, na última quarta-feira, 27. No palco da associação, além do médico, Humberto de Carvalho, pai de Theo, 9, paciente com autismo.

Neste momento, Pierro perguntou a Humberto, se ele havia se assustado quando disse que o tratamento de Theo seria com uma planta demonizada há décadas. “Foi um impacto, mas depois fiquei muito confiante”, respondeu Carvalho. Segundo Pierro, o menino tem inteligência acima da média, mas é muito inquieto e ansioso. Os pais explicaram que Theo tem alguns sentidos mais desenvolvidos do que outros. O tato é reduzido e a audição super sensível, o que provoca reações como bater palmas durante horas, por exemplo. Segundo o médico, o canabidiol é indicado para doenças como epilepsia, autismo e Parkinson, entre outras.

Na mesma quarta-feira do evento na Apae, Pierro apareceu no fim do dia em um webinário, discutindo a seriedade da medicina canabinoide, o quanto ela pode ajudar doentes refratários a tratamentos clássicos e a história medicinal da planta até a atualidade. O encontro virtual foi organizado por uma empresa de fundos de Cannabis. Participaram da discussão um empresários do setor, uma jornalista, e especialistas no mercado.

Três dias antes, ele se encontrou com um grupo que pretende pesquisar o efeito do canabidiol no desempenho de atletas. Pierro foi chamado para dar a opinião técnica sobre o trabalho. O grupo queria o aval do médico influencer.