Mais um derivado da Cannabis (CBG) chega ao mercado e médicos fazem ressalvas
Já ouviu falar em CBG (Cannabigerol)? A maioria das pessoas não conhece esse derivado da Cannabis, mas ele vem sendo divulgado por três produtores, que comercializam o óleo do produto no Brasil. São tantas as promessas de terapias, que entrevistei três especialistas para saber quais as devidas indicações.
O CBG foi descoberto na década de 1960, pelo pesquisador israelense Raphael Mechoulam, também conhecido como o pai das pesquisas com Cannabis. Mas não foi tão pesquisado como os conhecidos CBD (Canabidiol) e o THC (Tetrahidrocanabidiol), por ser encontrado em baixa quantidade nas plantas (menos de 1%). Ao que parece, com o aumento do mercado de Cannabis medicinal, o CBG começou a sobrar nas empresas, que resolveram investir no produto.
“O CBG é um excelente antiinflamatório e é indicado para o tratamento de intestino irritado”, diz o neurocirurgião Pedro Pierro, conhecido prescritor de Cannabis medicinal. “No início, os pesquisadores achavam que se tratava de um potencializador do CBD, mas descobriram que, na verdade, ele mantém a dosagem do CBD por mais tempo. Por isso, indico como coadjuvante, para reduzir a dose necessária de CBD.”
O tema vem despertando a curiosidade dos pacientes. “Um deles chegou ao meu consultório dizendo que o CBG faz neurogênese (formação de novos neurônios). Mas isso é marketing em cima de uma hipótese construída com base nos estudos realizados em animais”, diz a radiologista Paula Dall’Stella, especializada em medicina funcional, que faz parte da equipe do Núcleo de Cannabis Medicinal do Hospital Sírio Libanês. “Há poucos estudos com humanos. A grande maioria aponta para pesquisas com animais”, diz ela.
O CBG é conhecido como “mãe de todos os canabinoides”, por ser o precursor de muitos deles, incluindo o CBD e o THC. Este e outros produtos considerados inovadores, derivados da Cannabis medicinal, são objetos de estudos de clínicas, como a Thronus Medical e a Thronus Education, fundada pela médica brasileira Mariana Maciel, em Vancouver, no Canadá.
Ela explica o processo de transformação do CBG: “Na cadeia de biossíntese de canabinóides o CBGA é convertido em THCA em CBDA que se transformam em THC e CBD, respectivamente. Esse processo chama-se descarboxilação. Ele é induzido por calor e luz, que acontece no ciclo normal de floração da planta Cannabis. Com o tempo, a quantidade de CBGA vai diminuindo cada vez mais a medida que forma outros canabinóides. Mas uma parte dele também é descarboxilada em CBG.”
Maciel lembra que a Cannabis contém mais de 100 canabinoides. “O mercado internacional comercializa outros como Delta-8-THC, CBC e CBN, por exemplo. Mas realmente precisamos ter cuidado para não cair em falácias de marketing, estar atento às evidências científicas e preservar sempre a segurança do paciente.”
Seguem aqui as promessas de tratamento, que ainda precisam de confirmações de estudos clínicos:
- tratamento de glaucoma, pois acredita-se que tem poder de diminuir a pressão intraocular,
- redução de inflamações intestinais observadas em alguns camundongos,
- tratamento de Huntington, doença causada pela degeneração das células nervosas, pesquisa de 2015, com camundongos, mostrou poder regenerador de neurônios,
- indícios de bloquear os receptores que provocam o crescimento das células cancerosas,
- inibidor das contrações da bexiga,