Insegurança jurídica leva empresa de Cannabis a pôr o Brasil na “geladeira”
A empresa canadense VerdeMed, de Cannabis medicinal, anuncia oficialmente nesta terça, 26, o redirecionamento dos negócios aos investidores. Ela pretende investir prioritariamente no Chile, Peru, Colômbia e México. Startup com estratégia agressiva de mercado, a VerdeMed surgiu há pouco mais de um ano, com sede em Toronto, no Canadá, escritório em São Paulo, no Brasil, e laboratório de extração de óleo em Cali, na Colômbia.
A estratégia da VerdeMed será apresentada a 25 investidores em um hotel da capital paulistana. A empresa pretende captar US$15 milhões, que serão direcionados para a expansão da VerdeMed Agri na Colômbia, a implantação da Care nos demais países e no crescimento da linha de produtos.
Deste total, US$ 3 milhões serão destinados aos investidores que participaram do primeiro fund-raising, realizado no fim de 2017. Entre eles, nomes conhecidos na esfera dos negócios como Decio Goldfarb, acionista da lojas Marisas, e Helio Seibel, presidente e CEO da empresa familiar Leo Madeiras, membro do conselho diretivo da Klabin, sócio da Duratex e Leroy Merlin. Os US$ 12 milhões restantes ficam para os novos sócios.
Ex-presidente da Bombril, o fundador e CEO da VerdeMed José Bacellar, 55, é brasileiro. Nasceu na região central de São Paulo, na Bela Vista, passou a infância e a adolescência na Zona Oeste– na Lapa de Baixo e no Alto de Pinheiros, respectivamente. Há mais de uma década, mudou para o Canadá. Foi lá que, recentemente, assistiu a Cannabis explodir como a grande oportunidade de negócio mundial.
Em 2018, cinco meses depois de o primeiro-ministro Justin Trudeau legalizar a maconha no país, o Canadá arrecadou US$ 139 milhões em impostos oriundos da comercialização da Cannabis, segundo dados oficiais. Neste período, as ações da também canadense Tilray subiram 800% em dois meses.
A VerdeMed nasceu como uma empresa canadense direcionada para o mercado da América Latina. Porém, o Brasil sempre foi o “queridinho” do fundador. Neste ano, o escritório da Avenida Paulista ficou sob o controle de executivos experientes, enquanto Bacellar dedicou grande parte do seu tempo para divulgar a Cannabis medicinal Brasil afora.
Deu palestras, realizou eventos VIPs e até criou a polêmica campanha do “CBD legal”, em defesa do canabidiol, um dos principais ativos da planta e de grande importância medicinal. Estamos falando da substância da maconha que não dá o “barato”.
Bacellar foi de Toronto a São Paulo e voltou, com a mesma frequência de quem pega a ponte aérea Rio-São Paulo, para trabalhar. Ele parece seguir o lema de seu sócio Seibel: “Para crescer, às vezes é necessário arriscar tudo.”
Em tempo de juro estável, de um índice de 12 milhões de desempregados e de investidores com dinheiro no bolso procurando novas oportunidades de negócios –, Bacellar faz parte de um grupo de empresários que luta para que o Brasil tenha uma nova indústria. Sim, há outros com objetivos parecidos aos dele. Posso citar Viviane Sedola, da Dr. Cannabis, Caroline Heinz, da HempMeds, Caio Abreu, da Entourage Phytolab e Marcelo Galvão, da OnixCann, entre outros. A diferença esteja, talvez, no chamado “sangue nos olhos” para os negócios, que o fez ganhar desafetos, revelados nas redes sociais.
O Brasil fica na geladeira até que o governo regularize o comércio nacional de Cannabis medicinal. “Não podemos continuar com plano de transformar o país no centro de nossas operações em Cannabis medicinal, enquanto não houver segurança jurídica”, diz Bacellar. O empresário revela ter planos futuros para o Brasil. A empresa continua com o escritório na capital paulistana. Questionado sobre qual o país que será o centro dos negócios da VerdeMed, Bacellar desconversou.
O mercado nacional da Cannabis medicinal ficou na expectativa de mudanças positivas o ano inteiro de 2019. De um lado, a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) sinalizava mudanças de abertura na comercialização do setor, de outro, o governo federal, representado pela figura do ministro Osmar Terra, bombardeava todas as iniciativas neste sentido.
A expectativa foi tão grande que a Canopy Growth, empresa canadense com ações na bolsa, trouxe para São Paulo o braço científico da companhia, Spectrum Therapeutics, em junho. Junto com a abertura da sede científica, anunciou investimentos em pesquisa na América Latina. No início de novembro, no entanto, enxugou a lista de funcionários.