Políticos e milhares de fiéis comparecem ao velório do Padre Ticão na Zona Leste

A notícia da morte do Padre Ticão, Antonio Luiz Marchiori, de 68, na sexta (1º), causou muita comoção e não foi só na paróquia da Igreja São Francisco de Assis, em  Ermelino Matarazzo, na Zona Leste de São Paulo.

No velório realizado neste sábado de manhã (2), onde ocorreu missa de corpo presente transmitida pela web,  compareceram políticos de diferentes partidos, caso do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP). Cerca de 5 mil fiéis passaram por lá.

O caixão ficou no altar. Os fiéis e amigos do religioso usavam máscara e tomaram cuidado para que o local não ficasse lotado. As pessoas se revezavam, e muitos ficaram esperando a vez do lado de fora em fila. O religioso foi enterrado o Cemitério do Carmo I.

Quem não pode comparecer expressou os sentimentos pelas redes sociais. Foi o caso de prefeito Bruno Covas, que escreveu: “2021 começa com a triste notícia da morte do Padre Ticão. Grande defensor da população mais carente da Zona Leste de São Paulo.Um guerreiro na luta pela diminuição das desigualdades sociais. Descanse em paz.” O avô de Bruno, Mário Covas era amigo do padre. O prefeito decretou luto na cidade de São Paulo.

Da igreja, o Padre Júlio Lancellotti, que também trabalha na Zona Leste, escreveu no Instagram: “Minha homenagem e oração ao amigo e padre Ticão, falecido neste 1º de ano”. Uma homenagem seguida de tantas outras realizadas por integrantes da comunidade. Todos lamentando a perda do líder comunitário.

Nas últimas três décadas, o  religioso foi um líder comunitário atuante e engajado em questões que vão da moradia à saúde. Nesta área, era conhecido por defender a fitoterapia e promover cursos. Entre eles, o de Cannabis medicinal, administrado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No fim do ano chegou a realizar uma missa canábica. Levou uma série de mães e pacientes para darem testemunhos sobre os benefícios que a maconha medicinal trouxe para vida deles.

“Era muito equilibrado na política. Tinha trânsito em diferentes partidos”, disse Paulo Teixeira em uma homenagem ao padre pelo Facebook. A luta do pároco começou com os movimentos de moradia na década de 1980. Dessa mobilização surgiu um programa habitacional municipal, estadual e federal – o CDHU e o Fundo Estadual para Moradia. Teixeira contou que o Quercia (governador Orestes Quércia, PMDB) não brigava com padre. “Ele dizia que quem faz isso vai para o inferno”, afirmou Teixeira.

Padre Ticão parecia estar forte e saudável. Sempre de lá para cá trabalhando pela comunidade. Até falar com ele pelo telefone era difícil. “Ele teve uma crise hipertensiva e morreu de edema agudo ontem (sexta-feira, 1º)”, disse Eliane Nunes, psiquiatra e diretora da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis).

Nunes era parceira do pároco nos cursos de Cannabis medicinal, que ele realizava junto com a Unifesp. “Ninguém sabia que ele tinha problemas no coração. Nem a sobrinha, que é médica e o socorreu no dia 31, quando foi internado no Hospital Santa Marcelina de Itaquera.”

A missa de sétimo dia será na quinta-feira (7), às 20h, na Paróquia de São Francisco de Assis.